Saúde e ambiente: direitos fundamentais para a garantia da vida

Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/areas/trabalho/observa-sinos/547942-saude-e-ambiente-direitos-fundamentais-para-a-garantia-da-vida 

No dia 30 de setembro, quarta-feira, aconteceu a Oficina Realidade de Saúde e Ambiente, ministrada pela Profa. Ms Rosana Kirsch, da Cooperativa Educação, Informação e Tecnologia para Autogestão – EITA.

Rosana é formada em Ciências Sociais pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS e tem mestrado pela Universidade de Brasília – UnB, na área de Sociologia. Além disso, tem vínculo com o Observatório da Política de Saúde Integral das Populações do Campo, Floresta e Águas – OBTEIA.

A atividade foi realizada na Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros e em um primeiro momento foi feita uma apresentação breve sobre o Instituto Humanitas Unisinos, seguida de uma apresentação do programa ObservaSinos – Observatório da realidade e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos, vinculado ao IHU, que promoveram a atividade.

Foto: Carolina Teixeira

A apresentação do Instituto foi feita através do sítio do IHU onde se teve uma breve discussão sobre a aba Notícias do Dia e o que lá estava relacionado à Saúde e ao ambiente. Em uma pesquisa com a palavra saúde, foram encontrados temas permeados pela problemática dos agrotóxicos, presente hoje na realidade da alimentação de muitos brasileiros e brasileiras.

A partir disso, foi ressaltada a importância do Instituto como uma fonte de pesquisa e articulação entre diferentes organizações, pesquisadores e lideranças com atuação em temas de fronteira. Foram também apresentados os objetivos do ObservaSinos, que se propõe a subsidiar o planejamento, monitoramento, avaliação e controle social das políticas públicas do Vale dos Sinos.

Depois da apresentação do programa e do Instituto, era hora de conhecer os participantes presentes, que foram identificados pelo nome, formação e município de referência. Entre eles estavam acadêmicos do curso de Jornalismo, Educação Física, Ciências Econômicas, Gestão de Recursos Humanos, Fisioterapia e outros. Também compunham o grupo cidadãos de municípios diversos, como São LeopoldoSapirangaNova Santa RitaSapucaia do Sul, Porto AlegreBom Princípio e Novo Hamburgo.

Rosana começou a oficina incentivando a reflexão, dizendo que pensar saúde e ambiente está relacionado com o território em que estamos inseridos, tanto no espaço onde moramos, quanto no espaço onde passamos o nosso tempo de trabalho. “Saber onde estamos é muito importante para sabermos olhar para isso (saúde e ambiente)”, explicou ela.

A professora então convidou todos e todas para pensarmos e dialogarmos sobre o que, no nosso ambiente de convívio, PROMOVE e/ou AMEAÇA a vida. Assim os participantes foram divididos por municípios e regiões próximas para que juntos pensassem e debatessem sobre as questões solicitadas.

Durante a socialização sobre o que ameaçava e o que promovia a vida, foram levantados muitos temas em comum, desde a preocupação com a segurança e
natureza, como também o cuidado com a saúde, educação e lazer. Falando sobre São Leopoldo, foram destacados temas como a questão das enchentes que se fizeram presentes no município nos últimos meses em decorrência das chuvas. Preocupação também trazida por outros municípios que viveram situações parecidas, como o caso de Novo Hamburgo.

Grupo Hiperdia Asa Delta

Em relação ao que promove a vida, surgiram temas e iniciativas interessantes, como foi o caso do casal presente na oficina, Zuleide Pastorini e Valdoir Oliveira, ambos do município de Sapiranga, onde existe um projeto de ação comunitária de Saúde da Família João Goulart, em que se promove ginástica com a terceira idade. O nome do grupo se chama Hiperdia Asa Delta (veja no vídeo ao lado) , por conta de duas doenças (Hipertensão e Diabetes) a que essa faixa etária está mais vulnerável. Nesse sentido, é feita a medição de pressão e diabetes antes das atividades.

A partir dos apontamentos, Rosana destacou algumas reflexões sobre o que foi apontado pelo grupo. Questionando sobre o que poderia causar essas ameaças e quais soluções podem ser aplicadas, ela ressaltou a necessidade de um espaço de diálogo com a comunidade onde os temas pudessem ser aprofundados. “Que outras informações podemos trazer para além desse debate sobre saúde?”, questionou.

As realidades da região do Vale do Sinos foram em seguida confrontadas com outras realidades dos municípios do norte, nordeste e sudeste brasileiros onde a oficina foi realizada. Destaca-se a comunidade do Vale das Cancelas, situado no município de Grão Mogol, que fica no estado de Minas Gerais, onde os indicadores que ameaçavam a vida na comunidade foram questões relacionadas à vida no campo, no caso, desmatamento, falta de água tratada, monocultura de eucaliptopoluição dos rios, pulverização de agrotóxicos.

Foi possível notar que existem relações entre a ameaça e a promoção da vida. Ao mesmo tempo foram realizados apontamentos específicos das comunidades. Temos que ampliar nossas análises: “Temos que sair da caixinha de pensar saúde só como a questão da doença. Ter acesso à água, ao trabalho, ao lazer e à cultura, tudo isso faz parte da perspectiva de saúde que estamos falando”, enfatizou Rosana.

Foram também apresentadas plataformas de dados públicos, como o DATASUS, com dados mais voltados às questões de saúde. Alguns números foram expostos como o total de mortos por intoxicação de agrotóxicos no ano de 2009, segundo o Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SINAN, que alcançou 2.659 mortes. Além dos dados, faz-se necessário conhecer e analisar as vivências destas realidades pela população a ela implicada. Nesta perspectiva foi indicado o vídeo “Agrotóxico é um problema mesmo?”, sobre a pesquisa feita pela Dra. Raquel Rigotto, da Universidade Federal do Ceará, que pode subsidiar esta análise. Outros vídeos sugeridos foram “O veneno está na mesa” e “O veneno está na mesa II”, ambos dirigidos por Silvio Tendler e lançados pela Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida.

“Percebe-se que em sociedades desiguais as injustiças ambientais vão recair sobre as populações mais pobres”

Este quadro revela um conjunto de injustiças ambientais que estão presentes nas nossas realidades hoje. O agrotóxico é um componente que reforça o modelo de desenvolvimento atual e que reforça as relações de desigualdade e injustiças vividas no nosso país. “Percebe-se que em sociedades desiguais as injustiças ambientais vão recair sobre as populações mais pobres”, afirmou Rosana. A plataforma Mapa de Conflitos Envolvendo Injustiça Ambiental e Saúde no Brasil dá vistas a esta realidade, apresentando as denúncias ambientais vividas pelas comunidades envolvidas nos conflitos ambientais.

Na oficina também foram destacados alguns princípios da Rede Brasileira de Justiça Ambiental – RBJA que concebe justiça ambiental como “Princípios e práticas que asseguram que nenhum grupo social suporte uma parcela desproporcional sobre os impactos das injustiças ambientais”.

Por fim, Rosana ressaltou que existem três processos importantes em relação ao enfrentamento dos conflitos relacionados às questões da saúde e ambiente. É urgente e necessário que sejam construídas ações para denunciar, resistir e anunciar que existem outras formas de viver, como, por exemplo, a agroecologia. Foi o momento de uma breve avaliação sobre a atividade, onde o grupo ressaltou a importância de continuarmos em diálogo, compartilhando experiências e ações conjuntas para debater e fortalecer a mobilização sobre Saúde e Ambiente, que se apresentam como condições para a vida e a dignidade.

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