App Castanhadora ganha prêmio de inovação da ONU

O App Castanhadora calcula o preço e tempo ótimo de venda de Castanhas do Brasil. Transforma aparelhos celulares de comunidades castanheiras no meio da floresta em ferramentas para gerenciar os custos de produção e calcular o preço de venda da castanha durante a safra.

Uma iniciativa do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) que acaba de receber o prêmio de R$100 mil do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Os critérios de avaliação foram: (1) impacto social, (2) replicabilidade, (3) clareza metodológica, (4) sustentabilidade da inovação, (5) previsão de uso dos recursos recebidos e (6) resultados alcançados.

Confira abaixo a entrevista com Daniel Tygel que conta como a demanda chega à Cooperativa Eita. E da experiência de desenvolvimento participativo com o programa de formação do coletivo SEMEAR Castanha que envolve comunidades extrativistas, indígenas, ribeirinhas, gestores de cooperativas e servidores públicos.


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Ilustrações do vídeo: Boas Práticas Na Prática – Semear Castanha.

Entrevista com Daniel Tygel

Como surgiu a demanda do App Castanha?

A ideia da “Castanhadora” surgiu em meio aos encontros de formação do SEMEAR Castanha. São encontros bastante aprofundados que buscam fortalecer a rede da castanha, as boas práticas e potencializar essa cadeia.

E uma das dificuldades que as famílias castanheiras têm, muitas vezes, é saber o preço justo da castanha, conhecendo a composição de custos e remuneração do seu trabalho. Na correria da safra, é complicado o registro do tempo de trabalho, alimentação, equipamentos, alimentos e outras variáveis. Assim, os atravessadores que chegam para comprar a castanha impõem um preço, sem que seja possível saber se esta venda se dá por um valor justo. A Castanhadora resolve este problema e empodera a família na negociação. Afinal, informação é poder! E, neste caso, poder e renda nas mãos de quem mantêm a floresta Amazônica em pé.

Nesses diálogos, foi elaborada uma planilha de formação de preço. Ela tornou-se tão útil que, em um dia módulos do curso, após acaloradas e entusiasmadas discussões, surgiu a ideia de criarem um aplicativo para o celular que acompanhasse os/as castanheiros/as no dia-a-dia. Foi neste momento que nossa Cooperativa Eita foi convidada.

Como foi a especificação?

Fomos participar dos encontros na Amazônia. Primeiro para compreender o problema. Em seguida para avançar com a proposição através de protótipos. Esses protótipos foram avaliados pelos castanheiros e suas comunidades e receberam muitas críticas e sugestões. E logo apresentamos uma nova versão que também, em campo, foi homologada, com mais sugestões e melhorias.

Então foi uma experiência em campo, junto aos castanheiros, buscando traduzir um processo complexo em uma ferramenta simples. Entendemos que ele deveria ser incorporado como uma ferramenta de trabalho, tal qual uma enxada ou facão. E deveria ser uma boa companhia aos castanheiros em todo o ciclo.

Qual linguagem de programação foi utilizada?

Os castanheiros queriam ter privacidade e poder sobre estes dados. E debatendo todas as possibilidades, decidiram que os dados deveriam ficar apenas nos aparelhos celulares. Então não há nenhuma plataforma na internet pra receber os dados. Por isso ele foi escrito em Java, que é a linguagem do Android.

Quais experiências anteriores de desenvolvimento ajudaram no processo?

Nessa área mobile podemos citar o Responsa, o aplicativo do consumo responsável. Outra experiência que nos ajudou muito foi o desenvolvimento da plataforma Lume junto à AS-PTA, de apoio a assessores técnicos em processos de análise econômica e qualitativa de agroecossistemas agroecológicos, permitindo perceber de que maneira estão mais ligados ao agronegócio ou à soberania camponesa. O sistema de coleta de dados da plataforma Agroecologia em Rede nos ajudou também, pois trabalha com aplicativos de solução robusta que funcione em condições rurais.

Como o aplicativo vai contribuir com as comunidades castanheiras?

A Castanhadora transforma celulares, mesmo os mais antigos, em uma ferramenta que empodera as comunidades castanheiras, tanto durante a safra como especialmente no momento da negociação. Foi feito para ser simples e robusto, capaz de ser utilizado em uma unidade de conservação ou território indígena sem nenhum sinal de internet.

Além disso, é uma ferramenta pedagógica, na medida que guarda a memória do conjunto de gastos, remuneração do trabalho, depreciação dos equipamentos, participação social, entre outras despesas. Assim, faz com que se tenha consciência do valor do trabalho e do produto.

E no momento chave da negociação, permite avaliar, ali na hora, com barrinhas deslizantes, se o preço ofertado pelo comprador vai gerar impactos positivos ou negativos. Basta colocar o valor e o sistema projeta um resultado positivo (tela verde), pagamento das despesas (tela amarela) ou prejuízo (tela vermelha).

Essa projeção atualiza à medida em que os estoques vão sendo vendidos. E se você vendeu 100 latas à R$6,15 a lata, vai dizer que preciso vender às que restam à R$7,00 para que chegue em um resultado positivo.

Como esse prêmio será aplicado?

O aplicativo já está em uso. E muitas melhorias já foram identificadas. Esse recurso permitirá criar a versão 2.0 com maior potência e ainda maior adequação à realidade. E também irá fortalecer o trabalho do IEB para disseminação e formação para o uso da ferramenta.


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Vídeo: Boas Práticas Na Prática – Semear Castanha

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