Em maio de 2011 um coletivo se reuniu no Arrozal, no Rio de Janeiro, dando continuidade a diálogos sobre trabalhos conjuntos que poderiam fazer. A área que boa parte do coletivo já atuava era o software livre, desenvolvendo tecnologias da informação para organizações e movimentos sociais. Foi aí que surgiu a EITA e logo nos dias seguintes ao encontro seu nome completo: Educação, Informação e Tecnologia para Autogestão.
O que mobilizou o início da EITA foi a vontade de que nosso trabalho contribua com os movimentos sociais populares por meio do trabalho associativo, exercitando a autogestão política e econômica. Em outras palavras, quem esteve e está na EITA quer muito: trabalhar coletivamente, tecer relações equitativas, articular-se com as ações dos movimentos sociais e compor um empreendimento de economia solidária.
Virtual e Carnal
Em 2011, éramos seis pessoas morando 4 estados diferentes. Para continuar a organização da EITA, passamos a realizar reuniões à distância por webconferência. Inicialmente, ocorriam reuniões a cada mês ou quinzenalmente. Desde 2013, a EITA realiza semanalmente reuniões virtuais do coletivo para tomar decisões sobre os trabalhos em andamento, encaminhar orçamentos, deliberar sobre questões administrativo-financeiras, planejar e avaliar suas ações.
Em janeiro de 2012, fomos para o Fórum Social Mundial em Porto Alegre e, na sequência, realizamos nosso segundo encontro presencial em São Leopoldo/ RS. Estes momentos presenciais são fundamentais para a EITA e chamamos de Encontro Carnais. É quando dedicamos três dias para aprofundar ideias, projetos e definir próximos passos, além de podermos vivenciar um pouco da dinâmica de vida de quem acolhe o encontro. Até aqui, foram doze Encontros Carnais, muitas reuniões virtuais e muito aprendizado.
Cooperativa como opção política
Nos dois primeiros anos trabalhamos como um coletivo informal. Este foi um período importante para a gente se conhecer e criar um ambiente de trabalho associativo, antes de nos formalizarmos. Vínhamos de distintas experiências, morávamos em diferentes estados, alguns mantinham outros trabalhos em paralelo e para formar um coletivo precisávamos cultivar práticas de encontro, diálogos, reconhecimento dos diferentes saberes e decisões partilhadas.
O assunto da formalização esteve presente desde o início, tanto nas reuniões virtuais como nos encontros presenciais. Esta questão não era consenso, havia a posição de nos mantermos informais. O entendimento que fomos construindo era de que a formalização do coletivo permitiria que nos apresentássemos para trabalhos/ chamadas públicas, termos a documentação necessária para receber pelas prestações de serviços e garantirmos os direitos trabalhistas, criando as condições para a EITA ser o principal trabalho de cada integrante.
Já sabíamos não haveria um formato jurídico que atenderia às demandas de um empreendimento de economia solidária. Então, coletivamente, analisamos diferentes formatos jurídicos de empresa, seus tributos e burocracias. Concluímos que uma cooperativa tem maiores dificuldades para se constituir e tributação mais alta do que outros formatos jurídicos. Por outro lado, a cooperativa é o formato jurídico que melhor expressa a propriedade coletiva e a afirmação da autogestão na organização de trabalhadoras/es.
Em setembro de 2012, em Caldas/MG, com sete presentes e o convite para a oitava integrante compor o coletivo EITA, realizamos a Assembleia de Constituição da Cooperativa. Encaramos as burocracias por mais de um ano, fizemos os enfrentamentos políticos que surgiram no meio do caminho e, em janeiro de 2014, passamos a ser uma Cooperativa de Trabalho. Chegamos em 2018 firmes no propósito da EITA e conscientes dos desafios que a conjuntura apresenta.
Esta história já foi partilhada em muitas conversas com estudantes e empreendimentos da economia solidária. Vamos partilhar também aqui no site, registrando os aprendizados da EITA em post semanais sobre o trabalho associativo, cooperativismo, movimentos sociais, software livre e outros assuntos que vivenciamos.