Por: Ana Freitas
FOTO: CRISTINE ROCHOL/SECRETARIA DE SAÚDE DE PORTO ALEGRE
HORTAS COMUNITÁRIAS SÃO UMA DAS INICIATIVAS QUE APARECEM NO MAPA DO CONSUMO RESPONSÁVEL
Consumir é um ato político e pode ser uma ferramenta de transformação da sociedade e do meio ambiente. É dessa maneira que Juliana Gonçalves, coordenadora de projetos no Instituto Kairós, define o ato de se comprar algo com consciência.
O Instituto lançou em outubro o Mapa do Consumo Responsável, que busca facilitar o acesso dos cidadãos a produtos agroecológicos, iniciativas na área de economia solidária, mercados com venda de produtos artesanais feitos por cooperativas e centros de educação alimentar e nutricional.
Já estão mapeados mais de 3.000 pontos em todo país. São restaurantes, hortas comunitárias, feiras, bazares e lojas que seguem critérios de consumo sustentável – compram alimentos direto do produtor ou trazem o próprio agricultor, artesão ou estilista para expor peças e vendê-las. A base de dados vem de ONGs, do Ministério do Desenvolvimento Social e da Universidade de Brasília. Usuários também podem colaborar.
Como consumir com responsabilidade
O “consumo responsável” leva em conta um modelo de desenvolvimento e produção que seja comprometido com a redução dos impactos sociais e ambientais negativos associados à cadeia de produção.
Uma das estratégias defendidas por especialistas para que o consumidor seja capaz de fazer escolhas mais responsáveis é a eliminação dos intermediários e a aproximação entre o produtor e o consumidor.
Além de permitir que o consumidor tenha mais informações sobre como, onde e por quem aquele produto foi feito, essa estratégia permite remunerações mais competitivas para os produtores.
Consumir vegetais direto do produtor em uma horta local, por exemplo, gera menos impacto ambiental negativo e aumenta o impacto social positivo do consumo.
Em julho de 2016, a Organização das Nações Unidas e o Banco Mundial destacaram o papel da agricultura familiar na erradicação da fome e na promoção de sustentabilidade.
“Vivemos um processo de distanciamento entre o urbano e o rural e até uma desvalorização do rural. Esse processo de aproximação [entre produtor e consumidor] é educativo, na medida em que ressignifica relações entre campo e cidade”, diz Juliana Gonçalves, coordenadora de projetos do Instituto Kairós e uma das responsáveis pelo mapa.
Os impactos sociais e ambientais das grandes cadeias
Fiscalizações que flagram trabalho escravo em confecções de grandes marcas e “recall” de alimentos ilustram, de maneiras diferentes, os problemas da extensa cadeia de produção pela qual passam produtos industrializados. O consumidor raras vezes tem acesso aos detalhes e impactos da produção daquilo que compra.
Um dos mais icônicos documentários brasileiros, “Ilha das Flores”, produzido pelo cineasta Jorge Furtado em 1988, é uma aula curta – são pouco mais de 13 minutos – sobre a trama intrincada de impactos sociais e ambientais do modelo baseado em extensas cadeias de produção. Assista: