Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/observasinos/acoes/fique-sabendo/gestao-colaborativa-em-pauta-no-vale-do-sinos
A Oficina – Gestão colaborativa de bancos comunitários, moeda social e software livre de gestão foi realizada no dia 14 de julho, como uma das atividades do II Encontro das produtoras colaborativas. Foi concebido com o intuito de promover o debate sobre outras formas de fazer economia na Região do Vale do Rio dos Sinos. A oficina foi uma promoção doObservatório das realidades e das políticas públicas do Vale do Rio dos Sinos – ObservaSinos, programa do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Rede ITEIA, do Espaço Sideral e da EITA Cooperativa de Trabalho.
As experiências de bancos comunitários, moedas sociais e software livre têm sido concebidas como estratégias de afirmação de outras lógicas de desenvolvimento à economia hegemônica pautada pelo capital. Estas expressões, presentes em todo o Brasil, mobilizam e transformam realidades dos grupos sociais e de territórios. Muitas destas experiências se reconhecem como experiências de Economia Solidária, que propõe outras lógicas de trabalho, organização e desenvolvimento. O Fórum Brasileiro de Economia Solidária vai dizer que este modelo busca fundamentos na produção, consumo e comercialização na democracia, na cooperação e na autogestão.
Foto: Carolina Lima
EXPERIÊNCIAS
Durante a manhã conhecemos a história do Banco Comunitário da Cascata, que busca implementar a moeda social na zona sul de Porto Alegre. Katiucia Gonçalves, que é mobilizadora do Banco, apresenta que uma alternativa encontrada para aumentar o fundo do banco foi recolher garrafas plásticas (PET), as quais são vendidas para ‘atravessadores’. “As pessoas conhecem o banco através da doação de PET e quem doa recebe em Antenas”, conta. Antenas é o nome da moeda social do Banco da Cascata.
Ainda conta que essa relação transforma os laços. “Muitas vezes as pessoas não sabem o que fazemos, mas estão doando. Isso cria novas lógicas que não são monetárias, mas que são tão importantes quanto”, aponta. Além dessa ação, o grupo responsável pelo Banco Comunitário da Cascata também fez outras atividades no intuito de envolver a comunidade nesse debate e arrecadar fundos para o banco. “Fizemos feira de trocas, venda de almoços, cerveja artesanal. Compramos sempre todo o material de uso na comunidade para incentivo do comércio local”, registra Katiucia.
Katiucia também é integrante do empreendimento de economia solidária Misturando Arte desde sua constituição, há 10 anos, trabalhando com artesanato e confecção com reaproveitamento de materiais, assim como articuladora/educadora do Centro Regional Sul de Formação em Economia Solidária (CFES Sul) e agente de desenvolvimento do programa Brasil Local. Atualmente está na coordenação do Fórum Gaúcho de Economia Popular Solidária e participou da coordenação do Fórum Municipal de Economia Solidária de Porto Alegre.
Ainda durante a manhã, Solange Mânica, da Rede de Trocas Solidárias, apresentou o contexto de moedas sociais na região do Vale do Sinos e no Rio Grande do Sul. Solange é graduada em Biologia pela Unisinos e pós-graduada em Ciências da Terra/Geologia Ambiental pela UFRGS e ativa na criação e coordenação de projetos de economia solidária, junto a confecção e introdução de moedas sociais e bancos comunitários. No Vale do Sinos, a primeira moeda social, que se tem registro recente, é o Guajuviras de 2001 em Canoas. Em Novo Hamburgo, a moeda Pampa Vivo teve início em 2003 junto às comunidades que viviam próximo ao arroio Pampa. Atualmente, esta moeda está em circulação em eventos e o tema economia solidária é parte dos indicadores da educação pública municipal. Em São Leopoldo, houve iniciativa de criar um banco comunitário, mas não se tem mais informações do projeto que foi inaugurado em maio de 2009. Além disso, no Vale do Sinos, já houve a intenção de ter uma moeda para a região: o Regionalito.
MOEDA SOCIAL
A moeda social é uma instituição que busca promover a troca de bens e/ou serviços em determinados territórios. Seu uso fomenta o desenvolvimento regional, uma vez que propicia a troca de bens e serviços locais, já que a moeda é de uso da comunidade.
Além disso, os impactos da moeda social não se limitam ao desenvolvimento regional, visto que além de contribuírem com a integração daquele território, permitem novos olhares sobre a economia e sobre os processos de financeirização e vulnerabilidade que permeiam a vida de brasileiros, possibilitando certa autonomia. Conforme a Lei n° 10.214/01, as moedas sociais são “sistemas criados e administrados por grupos sociais, para viabilizar a realização de pagamentos, trocas ou transmissão de obrigações entre os membros de uma determinada comunidade”. A maior parte das moedas sociais tem equivalência quanto ao Real, ou seja, permite a conversão entre moedas.
Pedro apresentou alternativas que trabalham dentro da lógica da moeda social. Um exemplo foi a Universidade Livre de Teatro Vila Velha, de Salvador, Bahia, que funciona através desse modelo alternativo. “Tem como você fazer teatro sem gastar dinheiro”, apontou Pedro. Ainda contou que a troca nessa universidade se dá através da força de trabalho. A partir das demandas do mês para a universidade funcionar, os alunos têm um número de horas a cumprir por mês, em atividades como limpeza de sala, auxilio na iluminação, filmagem, entre outras demandas da universidade.
Ainda assim, outra forma de economia solidária se dá através do escambo, que consiste na troca de bens e serviços sem intermediação de moedas. O escambo, apesar de pouco utilizado, também pode contribuir como forma de desenvolvimento regional. A primeira parte da oficina está disponível no YouTube.
No período da tarde, Pedro Jatobá conduziu o debate em torno do software livre de gestão, apontando características essenciais para os bancos comunitários. A ideia de bem comum é fio condutor para desenvolver os bancos comunitários.Pedro Jatobá é mestre em Gestão e Desenvolvimento Social pela Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia – UFBA e Bacharel em Ciência da Computação pela Universidade Católica de Pernambuco – UNICAP. Atualmente é diretor de ações culturais do Instituto Intercidadania, coordenador de formação e articulação da Rede Colaborativa iTEIA, integrante da produtora Colabor@tiva.PE sediada na Universidade Federal de Pernambuco e da Cooperativa E.I.T.A.
BANCOS COMUNITÁRIOS E SOFTWARE LIVRE DE GESTÃO
Pedro apresentou a concepção de bancos comunitários e introduziu estes em softwares livres de gestão. Os bancos comunitários permitem o intercâmbio de serviços financeiros através do uso da moeda social, e assim como esta, introduzem a lógica do desenvolvimento regional, que permite a reorganização das economias locais, tendo por base os princípios daEconomia Solidária.
Para o uso na rede de bancos comunitários, Jatobá introduziu o uso da plataforma Corais. “Com essa ferramenta temos a capacidade de organizar o trabalho e dividir tarefas”, afirmou. O uso do Corais propicia o trabalho conjunto em rede visando obter maior transparência e trabalho colaborativo como formas de propiciar o bem comum.
Esta plataforma permite a criação de projetos autogestionados e transparentes com a possibilidade de usar ferramentas das mais variadas, como textos colaborativos, votações, questionários, planilhas e arquivos. Além disso, trabalha com a moeda social, ponto fundamental da oficina. Como símbolo do fundo de cada colaborador usa-se a Concha, uma moeda digital gerida a partir do próprio Corais, que permite a troca de bens e serviços dentro da economia e tem como limite o lastro produtivo da economia, ou seja, o ‘estoque de Conchas’. Esta plataforma caracteriza-se como transparente, uma vez que todos os membros da comunidade podem visualizar todas as transferências entre colaboradores, assim como o estoque de Conchas de cada colaborador.
Foto: Carolina Lima
Jatobá também apresentou uma das ações da Produtora ColaborAtivaPE: a Bicicleta Colaborativa que, com uma caixa de som adaptada, transmite pelas ruas de um bairro de Recife programação de rádio produzida pela ColaborAtivaPE com spots de divulgação de iniciativas comerciais dos arredores da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. Os spots são produzidos em software livre e pagos com Concha. “A tecnologia dá autonomia”, afirma.
Pedro também apontou a necessidade de articulação de uma rede com pessoas engajadas no projeto de desenvolvimento regional a partir da troca de bens e serviços em comum naquele território a fim de fazer prosperar o projeto.
Você também pode acessar o conteúdo da oficina através da Cooperativa de Trabalho Educação, Informação e Tecnologia para Autogestão – EITA.
Por Carolina Lima, Matheus Nienow, Marilene Maia e Rosana Kirsch