Nossas práticas

É no dia a dia do fazer coletivo que a economia solidária acontece.

Tudo começa com uma conversa com quem está com uma demanda de tecnologia.

Aí, a partir da conversa e, se necessário, de um levantamento de questões, elaboramos um orçamento para a organização ou movimento social.

Após ter o orçamento aprovado por quem irá nos contratar, aguardamos a assinatura do contrato para iniciar o trabalho. Fazemos uma reunião de alinhamento logo no início, momento em que fazemos os combinados e elaboramos um Plano de Trabalho ou Proposta de Cronograma. As reuniões acontecem de acordo com esse planejamento para apresentar o andamento do trabalho, tomar decisões e homologar as entregas.

Sempre que possível, os orçamentos incluem um período de testes e correção de problemas, que se estende após a entrega da tecnologia. As anotações sobre os problemas identificados e de melhorias desejadas pela organização contratante são feitas em uma planilha ou no próprio Gitlab, que é o repositório onde o código homologado fica disponível para a comunidade.

Para as reuniões remotas, a EITA utiliza a plataforma Jit.si e envia o link da sala antes da reunião. Caso a organização contratante utilize outra plataforma, poderá criar a sala de reunião e enviar para a EITA. O contato entre a EITA e a organização contratante acontecerá, preferencialmente, por e-mail. No início do trabalho, poderá ser combinado outros meios de comunicação e na entrega do trabalho fazemos uma avaliação que pode ser por formulário ou uma conversa.

Na EITA, cada trabalhador/a é co-responsável pelas atividades organizativas, que vão desde a elaboração de orçamentos, planos de trabalho, divisão de tarefas, diálogos com clientes e definição de acordos e prazos para entregas de projetos. Além destas atividades, as/os integrantes contribuem com a prospecção de novos trabalhos, acompanham a administração de recursos em caixa, participam das decisões sobre a aproximações de novas pessoas e das demais atividades necessárias para a manutenção da cooperativa.

Para cada trabalho, uma nova Frente de Trabalho (FT) se abre para ficar responsável pelo desenvolvimento das atividades previstas no contrato. Esta frente de trabalho é composta por pelo menos duas pessoas. Uma das pessoas fica como referência de contato com a organização contratante. Uma frente também pode estar relacionada com a manutenção/desenvolvimento de uma tecnologia ou com uma área de cuidado da cooperativa. Por exemplo, há uma FT Administrativa que cuida das tarefas financeiras e há uma outra que é responsável pelos Servidores. As atividades das Frentes de Trabalho envolvem momentos síncronos e assíncronos.

Entendemos que um software é um artefato construído a partir de escolhas. Pode portanto ser re/construído e alterado. Para garantir que essas escolhas sejam coletivas, a formação ao longo de cada trabalho é fundamental. A participação de quem nos contrata nas escolhas que determinam as formas como um software funciona contribuem para o aprendizado e melhor compreensão entre aquilo que se deseja e os limites, ou desafios, que uma tecnologia pode apresentar.

Mesmo quem não participa do processo se beneficia ao usar um sistema que na sua gênese contou com olhar de não desenvolvedoras/es. Na EITA, o design trabalhado por essa perspectiva propicia um processo educativo que faz parte do nosso jeito de trabalhar.

Semanalmente, a cooperativa se reúne para revisar assuntos do cotidiano e dar encaminhamentos. Na reunião semanal, as Frentes de Trabalhos podem apresentar o andamento das suas atividades e compartilhar necessidades de apoio. Uma vez por mês, em reunião da cooperativa, revisamos o andamento geral dos trabalhos e horas disponíveis em cada orçamento.

A cada semestre, realizamos Encontros Carnais que são nossas Assembleias presenciais. No período da pandemia de Covid-19, fizemos de forma remota e demos o nome de Encontros Espirituais. As Assembleias são momentos de encontro, avaliação e planejamento durante três dias de atividades, preferencialmente, em um território onde vive um/a cooperada/o ou articulado com algum encontro de movimento social.

As reuniões e encontros da EITA são registrados com fotos e relatos escritos. Isto é muito importante para nossa organização e também para a sistematização da nossa experiência.

A gestão administrativo-financeira da cooperativa tem tarefas sob responsabilidade de uma Frente de Trabalho e também é um compromisso de todas as/os cooperadas/os que gestionam trabalhos para clientes ou internos.

Todas as pessoas da EITA recebem  o mesmo valor de hora pelo trabalho realizado. O trabalho pode ser para um/a cliente ou uma tarefa interna. Também remuneramos o descanso semanal e anual, licenças e atestado. Conforme a Lei de Cooperativas de Trabalho, contratamos um Seguro Saúde/Acidente de Trabalho e, de acordo com a Lei Geral de Cooperativas, temos um Fundo de Reserva e o FATES. Além disto, criamos o Fundo de Cooperadas onde as/os trabalhadoras/es da cooperativa podem ter um empréstimo em juros e com prazo de carência de retorno.

Para garantir a cobertura dos compromissos coletivos de remuneração, contratação de serviços, infraestrutura, pagamento de tributos e outros, temos um valor de hora técnica que é revisado anualmente.

Nossos orçamentos são elaborados por hora de trabalho dedicado em cada etapas e considera o valor da hora técnica. Com base nas horas de cada orçamento fazemos a gestão dos recursos e acompanhamento dos trabalhos.

Em 2019, iniciamos o desenvolvimento do sistema Bambirra para registrar e gerar dados de acompanhamento dos orçamentos e outras informações da cooperativa. A partir dos registros no Bambirra, a plataforma Metabase gera gráficos que ajudam nas análises realizadas em reuniões semanais e assembleias.

Bambirra é uma homenagem à Vânia Bambirra, economista marxista brasileira. O nome foi uma sugestão de Bernardo Vaz quando era cooperado na EITA.

Compartilhar nossa experiência como empreendimento da economia solidária é uma prática da EITA.
Quando um coletivo quer saber como nos organizamos, marcamos um momento de conversa e contamos. Chamamos estes momentos de EITA Livre!

Se alguém nos chama para estar numa atividade do campo dos movimentos sociais populares para refletir sobre economia solidária, da autogestão, do software livre e do desenvolvimento participativo, nos organizamos e vamos.

Dialogar sobre nossa experiência nos ajuda a nos percebermos e também, esperamos, que mobilize para que outros coletivos surjam!