Assassinatos em conflitos no campo aumentaram 75% em 2021, denuncia a CPT

Texto: Mário Manzi – Assessoria de Comunicação da CPT Nacional

O lançamento, que ocorre historicamente  em abril, mês da Jornada Nacional de Lutas por Reforma Agrária, foi realizado presencialmente, em coletiva à imprensa, com participação de organizações e movimentos sociais.

Participaram da mesa de lançamento: o presidente da CPT, Dom José Ionilton; Andréia Silvério, da coordenação executiva nacional da CPT; Guilherme Delgado, da Associação Brasileira de Reforma Agrária (ABRA); Dom Joel Amado, secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB); Geovane da Silva Santos, pai do garoto Jonatas, morto a tiros em 10 de fevereiro na Zona da Mata de Pernambuco; Jaque Kuña Aranduhá, indígena Guarani-Kaiowá, do Mato Grosso do Sul; Antônio Eduardo de Oliveira, secretário executivo do Cimi; e Tales dos Santos Pinto, coordenador do Centro de Documentação Dom Tomás Balduino (Cedoc-CPT).

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) iniciou o momento de acolhida ao entoar e tocar a canção “Pra Não Dizer que Não Falei de Flores” de autoria de Geraldo Vandré. Iniciando a mesa, Dom Joel Amado, secretário-geral da CNBB falou da importância histórica dos dados divulgados pela CPT: “Assim como a terra, a verdade é condição de democracia. Um país que teme a verdade, não pode ser chamado de democracia. Um povo estará a caminho da maturidade, quando, entre outros aspectos, se comprometer com a justiça social em relação à terra e igualmente e tiver compromisso com a verdade”.

Presidente da entidade, Dom José Ionilton lembrou que “a CPT atua pastoralmente junto aos camponeses e às camponesas, na busca pelo bem comum, que é tantas vezes ameaçado pelo capitalismo selvagem, pelo agronegócio, pelas mineradoras, madeireiras, pelo garimpo ilegal. Impressionam os dados de conflitos no campo de 2021. Quantas mortes, quantas ameaças, quantas ações judiciais injustas de despejo, quantas pessoas e famílias que sofreram algum tipo de violência”.

Coordenador do Cedoc-CPT, Tales dos Santos Pinto apresentou alguns dos principais dados de conflitos em 2021, assim como exemplificou a violência no campo, com casos emblemáticos vivenciados por comunidades tradicionais. No último ano houve aumento de 75% no número de assassinatos em conflitos no campo, no Brasil. Já o número de mortes em decorrência de conflitos registrou  aumento de 1.100%. Veja os dados AQUI.

Ao comentar os dados, em seguida, Guilherme Delgado, diretor da ABRA, qualificou a importância da publicação do relatório como contrapeso no contexto dos conflitos. “Ao iluminar com informações detalhadas, você de certa forma segura a mão do opressor, daqueles que perante a luz da denúncia são de alguma forma contidos. Esse é o papel primordial do relatório da CPT.”

Comunidades

Indígena Guarani Kaiowá, Jaque Kuña Aranduhá expôs a situação de intolerância religiosa que sofrem especialmente comunidades do Mato Grosso do Sul, bem como as situações de conflitos vividas pelas mulheres. “É preciso que acreditem na voz das mulheres indígenas, porque são vozes que estão sendo criminalizadas. Temos denunciado casos de intolerância religiosa. Registramos nos últimos dois anos, 16 queimas de casas de reza. As caravelas não pararam de chegar nos nossos territórios e têm nos afetado violentamente”.

Agricultor e pai do menino Jonatas, assassinado a tiros aos nove anos de idade, na Mata Sul de Pernambuco em abril deste ano, Geovane da Silva, relembrou a morte do filho e deixou evidente a tensão agrária que se estende por décadas na região. “Nós vivemos numa área muito conflituosa, já aconteceu muita coisa em nossa propriedade, mas seguimos resistindo [junto às] 77 famílias que estão lá. Até que assassinaram meu filho. Vários conflitos de criação de gado estão se alastrando ao redor de nós, mas seguimos resistindo, pedindo que as autoridades parem o conflito. Nada foi feito”.

Secretário Executivo do Cimi, Eduardo de Oliveira ressaltou que “o atual governo se coloca sistematicamente contra os povos e contras os povos indígenas. Tem aumentado a violência do Estado através da atuação da Polícia Militar. Tivemos o assassinato de quatro indígenas Chiquitanos dentro de seu território. Tivemos o assassinato de Ari Tembé, dentro de seu território. O que ocorre no território Yanomami e Munduruku é a atuação de milícias armadas com conivência do Estado.”

Ao comentar as falas, Andréia Silvério, da coordenação executiva da CPT, levantou a preocupação sobre as proposições do Congresso Nacional e também a atuação dos poderes Executivo e Legislativo. “Fica evidente a preocupação com relação aos projetos de lei que estão tramitando no Congresso Nacional e também com as ações do poder Executivo e, em certa medida, a conivência do poder judiciário com os casos de violência existentes no campo brasileiro.”

A atividade foi transmitida nos canais da CPT Nacional no Facebook e no Youtube. O áudio da coletiva também foi disponibilizado via Twitter Spaces, e pode ser ouvido AQUI.

A EITA contribui neste trabalho fundamental da CPT: desde 2018 atuamos junto ao banco de dados que organiza as informações coletadas pela rede da Comissão Pastoral da Terra e movimentos sociais.

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