Desde 2005 uma empresa privada americana nos observa e mapeia. Em 2016, percebendo que a viatura do Google Maps aproximava-se de sua rua, Ernesto de Carvalho pega sua câmera e encara o mapa olho no olho. Algum tempo depois ele encontra sua imagem fotografando o olho do mapa no próprio mapa. Daí surge este filme que em apenas seis minutos ajuda nosso músculo óptico a enfrentar o momento político que vivemos.
O diretor sai do lugar de objeto e mostra o que foi ofuscado pela claridade com que a câmera do Google captura e projeta a cidade em nossas telas. “Pro mapa não há governo, não há golpe de estado, não há revolução. Nunca é noite no mapa”. Ao mover-se como sujeito e deslocar o mapa projetando seus próprios lampejos de memória, o artista traz história para o que o mapa congelou. E assim desmonta uma forma totalitária de olhar pro horizonte, pro outro e pra cidade.
O filme vai muito além de refletir sobre o uso de um aplicativo que nos promete facilitar a vida, mas no fundo nos usa. Ele nos alerta para o ofuscamento da ocupação popular dos espaços comuns da cidade. E demonstra que não existe imparcialidade. Já disse Paulo Freire, tudo tem uma base ideológica. A questão é: sua base ideológica é inclusiva ou excludente?. Nunca é noite no mapa é um gesto político e mostra que a máquina totalitária não cumpre seu trabalho sem resistência.
Nunca é noite no mapa
Ernesto de Carvalho
Recife, 2016
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