Gestão colaborativa de bancos comunitários: moeda social e software livre de gestão

 

Fotos: Carolina Lima

Solange Manica e Katiucia Gonçalves na Oficina sobre Bancos Comunitários

Solange Manica e Katiucia Gonçalves na Oficina sobre Bancos Comunitários

No dia 14 de julho, na Unisinos, a Oficina sobre Bancos Comunitários trouxe para a roda experiências de uso de moeda social para dialogar com experiências do Vale do Sinos que estão buscando viver uma outra economia.

A oficina foi organizada pelo Instituto Humanitas Unisinos/ Observatório das Políticas Públicas do Vale do Sinos, Rede ITEIA, Espaço Sideral e EITA Cooperativa de Trabalho. Foi uma das atividades do II Encontro Sul de Produtoras Colaborativas, que contou com ações em Porto Alegre, em Novo Hamburgo e São Leopoldo.

Na parte da manhã, Solange Mânica, da Rede de Trocas Solidárias apresentou o contexto de moedas sociais na região do Vale do Sinos e no Rio Grande do Sul. A primeira moeda social no Vale do sinos, que se tem registro recente, é o Guajuviras de 2001 em Canoas. Em Novo Hamburgo, a moeda Pampa Vivo teve início em 2003 junto às comunidades que viviam próximo ao arroio Pampa. Atualmente, esta moeda está em circulação em eventos e o tema economia solidária é parte dos indicadores da educação pública municipal. Em São Leopoldo, houve iniciativa de criar um banco comunitário, mas não se tem mais informações do projeto que foi inaugurado em maio de 2009. O Fórum Social Mundial e a Feira de Santa Maria têm sido espaços de uso de moeda social com uso das moedas Txai e Mate, respectivamente. E, no Vale do Sinos, já houve a intenção de ter uma moeda para a região: o Regionalito.

Katiucia Gonçalves, do Banco Comunitário da Cascata e do Misturando Arte, apresentou como está sendo a organização do banco na comunidade Primeiro de Maio. Criado em 2015, o banco se constituiu na Associação de Economia Solidária, Cultura e Educação da Cascata (ASESCEC) em 2016 e é mais um fruto das ações que acontecem há mais de uma década na comunidade: feiras, espaços de trocas, ocupação da escola, associação de bairro, diálogo interreligioso. Para a obter recursos para o lastro da moeda social, a comunidade vem sendo realizado eventos, como almoço, também recolhe evende garrafas pet. O Banco tem promovido feiras de trocas com o uso de moeda social Antena. A iniciativa tem a assessoria do NEGA UFRGS e conta com apoio da AVESOL, Cáritas e realizou ação com o MST.

O Banco da Cascata faz parte da Rede Brasileira de Bancos Comunitários, que conta com 115 bancos articulados e tem como orientações para emissão de moeda social local circulante: i) ser lastreada em moeda nacional (real), ii) ser indexada ao real, iii) permitir o câmbio (moeda social x real x moeda social), iv) ter circulação restrita ao território de atuação do Banco Comunitário (não mais que 60.000 hab.), v) ser de livre aceitação pelos moradores e comércio local. E mais: vi) não deve ser cobrado juros para empréstimo em moeda social, vii) na frente da moeda deve ter o nome e endereço da entidade gestora do banco, viii) no verso da moeda deve ter um texto explicativo de que se trata de um “bônus” que promove o desenvolvimento local e de uso exclusivo para troca de produtos e serviços na comunidade. A Rede de Bancos usa o aplicativo e-dinheiro para transações e duas pessoas do Banco da Cascata estiveram em Fortaleza vivenciando o dia a dia da comunidade Palmeiras onde o app e as várias ações do Banco Palmas vêm acontecendo.

Pedro Jatobá na Oficina sobre Bancos Comunitários

Pedro Jatobá na Oficina sobre Bancos Comunitários

Na parte da tarde, Pedro Jatobá, da ColaborAtivaPe e da EITA, retomou o debate da manhã sobre lastro, conversibilidade, abrangência de uma moeda social e proposta de moeda regional, uso de software livre para gestão de bancos comunitários. A ColaborAtivaPe, uma produtora cultural colaborativa de Recife, usa a moeda social Concha nas trocas com empreendimentos dos arredores da UFPE e também oferece cursos que podem ser pagos em moeda social. O Teatro Vila Velha, de Salvador, tem a moeda social Tempo para sua gestão e atividades formativas. Como software livre de gestão, estes bancos comunitários usam o Corais.org que oferece entre suas ferramentas uma específica para moeda social que permite realizar transações, visualizar a rede de trocas e organizar tarefas/ trabalhos na rede. O ESCAMBO, também é um software livre que permite trocas com uso de moeda social.

Algumas reflexões do intercâmbio desta oficina:

  • Articulação de uma rede: coletivos e pessoas engajadas na iniciativa, oferecendo e trocando serviços, produtos é um dos maiores desafios na criação de uma moeda social/ banco comunitário.
  • Bancos que se iniciam a partir de experiências existentes: as três experiências de bancos comunitários/ moedas surgem baseadas em ações coletivas já existentes nas comunidades.
  • Banco Comunitário como ação articulada com movimentos sociais: projeto de outra economia pautada nas pessoas e na vida, não no lucro, que potencializa o trabalho e produtos oferecidos por movimentos sociais.
  • Diferentes abordagens no uso e metodologias de moedas sociais e bancos comunitários.
  • Moeda social regional/ nacional: possível problema em um banco pode afetar a rede toda, prejudicando a continuidade. Perspectiva aceitar a moeda social de outro local pode ser mais articuladora do que uma moeda única.
  • Banco comunitário para além da moeda social: como fomento para a produção e oferta de serviços locais por meio de empréstimo, de mapeamento das demandas locais.
  • Gestão coletiva e colaborativa: reuniões, encontros, coordenação horizontal, uso de software Corais que permite ver as transações da rede, contribuindo para tomada de decisões.
  • Software livre: o conhecimento livre é parte da construção de uma outra economia que se pretende solidária e de cooperação. Um dos desafios está em ter um software livre que seja app e permita uso sem internet.
  • Lastro: pode ser em dinheiro, produtos, serviços.
  • Equivalência: definida pelo coletivo do banco; ColaborAtivaPE: concha vale 0,50 de real, por exemplo.
  • Equipe de trabalho para um banco: importante que se tenha pessoas dedicadas à articulação/ gestão do banco. Na ColaborAtivaPe, dedicação de 20h semanais distribuidas entre 4 pessoas.

O intercâmbio de experiência foi inspirador para o Espaço Sideral que já realiza trocas diretas e seus tripulantes saíram da oficina animadas/os em implementar o Grão. A EcoFeira da Unisinos, que está em seu segundo mês, está iniciando a reflexão sobre a possibilidade de uso de uma moeda. Assim como a Feira Viva, de Novo Hamburgo, que está para iniciar suas atividades em setembro e também tem as trocas solidárias como um dos seus objetivos.

Para assitir a parte da manhã da oficina: https://www.youtube.com/watch?v=CuKqpBk11Jg

 

2 comentários sobre “Gestão colaborativa de bancos comunitários: moeda social e software livre de gestão”
  • Marcelo Ferreira Neto Responder
    8 de março de 2021 at 22:52

    Gostaria de desenvolver esse projeto

  • Marcelo Ferreira Neto Responder
    8 de março de 2021 at 22:53

    Gostaria de ver multiplicar projetos assim.

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